DRE por obra muda a régua da gestão financeira em projetos de infraestrutura

DRE por obra é essencial para construtoras e empresas de infraestrutura que buscam controle preciso de custos e rentabilidade por contrato. Veja quando aplicar e como estruturar esse relatório.

No setor de infraestrutura, onde obras de larga escala movimentam valores elevados, ciclos longos e cronogramas complexos, o controle financeiro tradicional já não responde mais com precisão às necessidades de gestão. Nesse cenário, o uso do DRE-Demonstrativo de Resultado do Exercício, por obra, surge como uma alternativa eficaz para empresas que precisam de clareza sobre a rentabilidade específica de cada contrato.

 

Mais do que um relatório contábil, o DRE por obra oferece uma lente de aumento sobre os custos diretos, indiretos e margens de lucro ou prejuízo individualizados de cada projeto. A leitura separada desses dados permite decisões mais bem calibradas, com menor risco de generalizações enganosas que, no agregado, escondem ineficiências ou oportunidades desperdiçadas.

 

Quando o DRE individualizado se torna necessário

O DRE consolidado costuma atender a companhias com atuação uniforme ou projetos padronizados. No entanto, para empresas que atuam em diferentes regiões, com contratos públicos e privados, de tamanhos variados e realidades operacionais díspares, a versão por obra do demonstrativo torna-se uma ferramenta de sobrevivência.

 

Imagine um grupo que executa simultaneamente a duplicação de uma rodovia federal no interior de Minas Gerais, uma obra de saneamento básico no norte do país e um terminal intermodal em São Paulo. Consolidar receitas e custos desses três projetos em um único relatório equivale a colocar numa mesma planilha um balancete de frutas, aço e minério. Não há gestão possível quando a comparação é tão disforme.

 

Além disso, o DRE por obra é fundamental para monitorar desvios de orçamento, revisar contratos com fornecedores, renegociar cronogramas com clientes e, principalmente, realocar recursos internos com mais inteligência. O modelo revela onde a operação é rentável de fato, e onde o prejuízo está sendo mascarado por outras receitas.

 

O que deve compor um DRE por obra

Estruturar corretamente esse demonstrativo exige disciplina contábil e, sobretudo, integração entre as áreas financeira, operacional e jurídica da empresa. Abaixo, estão os principais blocos que um DRE por obra precisa conter:

 

  • Receitas líquidas do contrato específico: apenas os valores faturados ou reconhecidos daquele projeto;
  • Custos diretos: materiais, mão de obra, locações e serviços terceirizados que atendem unicamente àquela obra;
  • Despesas indiretas alocadas: administrativos, logística de apoio, seguros e outros gastos compartilhados, mas que precisam ser rateados com critério técnico;
  • Provisões de garantia ou contingência: valores estimados para pós-obra ou litígios;
  • Resultado antes dos tributos: margem operacional do projeto antes da dedução de impostos;
  • Resultado líquido do contrato: lucro ou prejuízo real daquele projeto.

 

Dessa forma, a empresa deixa de olhar o todo e passa a enxergar com precisão onde está ganhando dinheiro, e onde está perdendo, mesmo com faturamento alto.

 

Diferença em relação ao balanço tradicional 

O DRE por obra não substitui o demonstrativo geral da empresa. São documentos complementares. Enquanto o consolidado apresenta o retrato do desempenho global do negócio, o DRE individualizado funciona como um raio-x por unidade produtiva.

 

Ambos alimentam o mesmo sistema contábil, mas com finalidades distintas. O primeiro atende às exigências fiscais e auditorias. O segundo permite avaliar o desempenho gerencial com mais agilidade e profundidade, sobretudo em organizações que lidam com múltiplas frentes simultâneas.

 

Empresas com portfólio enxuto, porém com alta complexidade técnica, também se beneficiam desse modelo. É o caso de empreiteiras que executam uma obra por vez, mas com grande intensidade de insumos e mão de obra, como barragens, túneis e linhas férreas. Nesses casos, o DRE por obra é o principal insumo para o comitê financeiro tomar decisões em tempo real.

 

Quando a conta compensa o esforço

Nem sempre compensa aplicar esse modelo a qualquer projeto. Obras de curta duração, baixo risco financeiro ou pequeno porte podem ser monitoradas por relatórios gerenciais convencionais. O DRE por obra passa a fazer sentido a partir de três cenários comuns no setor:

 

  • Quando a empresa possui contratos com margens variadas e precisa tomar decisões com base na lucratividade efetiva de cada um;

 

  • Quando os custos diretos representam mais de 60% da receita do contrato, exigindo controle milimétrico sobre materiais, horas e fornecedores;

 

  • Quando há exigência contratual de prestação de contas ou compliance financeiro por parte do cliente ou de financiadores, como acontece em projetos com participação de bancos multilaterais ou fundos de infraestrutura.

 

Um levantamento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base mostra que, em grandes grupos, o uso de DRE por obra como instrumento de análise cresceu 35% nos últimos cinco anos, tendência acelerada após a pandemia, com foco em eficiência e retorno real.

Uma visão realista com dados 

Para demonstrar a relevância do DRE por obra. Pesquisas indicam que os custos diretos com materiais correspondem em média a 20 % a 40 % do custo total da obra, variando conforme o porte e a natureza do projeto. 


Essa proporção reforça a necessidade de gestão individualizada por contrato, especialmente em empreendimentos de alto custo ou com múltiplas fontes de despesas.

 

Além do controle dos custos diretos, a DRE por obra permite avaliar de forma clara receitas operacionais, como pagamentos por etapas finalizadas e eventuais ajustes contratuais, e diferenciar despesas administrativas e tributárias específicas de cada contrato.

Essa segmentação facilita a precificação inteligente, o monitoramento contínuo da execução e a avaliação da viabilidade financeira de cada obra.

 

Vantagens práticas para a gestão da empresa

Na prática, o DRE individualizado aumenta o poder de decisão e previsibilidade da empresa em três frentes:

 

  1. Precificação mais justa e precisa: ao conhecer o custo real por tipo de obra e região, as propostas comerciais deixam de ser genéricas e passam a refletir a experiência de campo;

 

  1. Acompanhamento em tempo real: com softwares de gestão integrados, é possível atualizar semanalmente os dados, identificar desvios e agir rapidamente para ajustar a rota;

 

  1. Transparência com investidores e órgãos financiadores: a apresentação segmentada dos resultados facilita a captação de recursos e a prestação de contas, fortalecendo a credibilidade da empresa.

 

Como começar a implantar

A implantação pode ser feita por etapas, começando com os contratos de maior volume ou complexidade. Em paralelo, é essencial treinar equipes de obra para alimentação correta dos dados e desenhar critérios objetivos para alocação de despesas compartilhadas.

 

Planilhas isoladas já não dão conta desse processo. Hoje, a digitalização da contabilidade, com uso de ERPs para construtoras e obras públicas, permite montar DREs automatizados, com consistência e rastreabilidade fiscal.

 

Quando a análise individualizada passa a fazer sentido

O uso de DRE por obra não é apenas uma inovação contábil, é uma medida de profissionalização da gestão financeira que se alinha às boas práticas do setor de infraestrutura. Empresas que desejam escalar sua operação, aumentar sua margem e evitar riscos operacionais devem considerar esse modelo como parte do seu arsenal de governança.

 

Se sua empresa precisa estruturar a contabilidade por centro de custo e obter relatórios confiáveis para tomada de decisão, o ideal é contar com especialistas que conheçam a fundo as complexidades do setor.

 

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Fonte:Exame  | ERP